O psicólogo Henrique Alexandre Pereira Weber deixou seu relato

        Nos dias 13, 14, 27 e 28 de setembro, o psicólogo Henrique Alexandre Pereira Weber realizou palestras com o tema “A intoxicação digital e o comportamento de automutilação” nas EMEFs Prudêncio Franklin dos Reis, Gonçalina Pinto Vilanova e Reinaldo Markus, e na Oficina Terapêutica, alusivo ao Setembro Amarelo. Perguntado sobre o tema abordado, Henrique deu seu depoimento, o que transcrevemos abaixo:

        “Então, todo setembro a gente faz a campanha de prevenção ao suicídio e a automutilação. A automutilação é considerada assim um gesto de autoagressão a si mesmo e que carrega algumas marcas, e isso pode levar a pessoa a repetir esse comportamento de se cortar, automutilar significa se cortar, ou até mesmo de ter uma ideação suicida ou uma tentativa de suicídio. Essas marcas, elas são uma marca psíquica, não só uma marca no próprio corpo, e pode levar a isso. Então a gente tem que estar atenta, não são todos os casos que automutilação vai ser equivalente a uma tentativa de suicídio, mas a equipe de saúde tem que estar atenta.

Então, eu selecionei a palestra a intoxicação digital e o comportamento de automutilação para dar para o público jovem, que é o futuro, a gente precisa fazer essa campanha preventiva pensando em uma mudança de comportamento. E o que a gente está vendo agora é um problema de caráter mundial, podemos dizer que é uma verdadeira pandemia, que é a compulsão por uso de telas.

Então o público jovem é o público que está mais vulnerável a esse problema do uso excessivo de telas. Assim, a minha palestra é muito instrutiva, porque além de trazer informações do mundo da internet, de coisas que eles usam, dos aplicativos que eles costumam usar, dos games, eu trago também o que está por trás do uso da internet.

A linguagem, o algoritmo, a questão do mercado, e nesse sentido é uma palestra que eles se interessam, porque eu estou falando diretamente sobre um objeto que eles desejam muito, que é brincar e se entreter na internet. De uma maneira que eu trago uma visão crítica sobre esse uso, uma visão também do lado sanitário, da saúde, onde trago sintomas, comportamento. Então, uma das coisas que eu passo para eles é que existe um mercado que ganha muito dinheiro por trás desses aplicativos. E esse mercado quer que os jovens consumam 24 horas por dia, ou seja, o celular está desenhado para o jovem não querer se desligar nunca. E é isso que eu vejo na clínica, na minha atividade de psicoterapia.

Os jovens ficam consumindo e se deixar, eles não desligam o celular. Então, a gente vê que as grandes empresas, que a gente chama de Big Tech, não mostram nenhuma ação importante, nenhuma política que amenize o uso excessivo. Então, os jovens estão vulneráveis, porque eles acessam tudo. Eles acessam conteúdos inapropriados e eles estão vulneráveis a pessoas que podem fazer um mal para eles, porque na internet, quem quer fazer um mal, se esconde num perfil fake ou num anonimato. Então, pedofilia, discurso de ódio, incentivo a se automutilar, tem incentivo para se matar, tem incentivo para se esconder dos pais, esconder as coisas dos pais, para sair de casa, incentivo a cometer crimes. Então, o problema que nós estamos envolvidos é bastante grande.

 

        “A palestra que eu faço nas escolas, eu fiz no dia 13, 14 e 28 de setembro, em três escolas aqui de Paverama. Ela é um momento muito especial, porque eu estou lidando com o futuro da humanidade. E a sabemos que estamos no lado correto da história. Então, a gente percebe ao tratar desse assunto, que há um interesse grande deles e uma energia muito grande, uma sinergia. Eles respondem às palestras.

        Eles respondem através de comentários. É legal que muitos concordam, outros discordam. A palestra acaba mobilizando eles. E o que eu venho mostrando para eles é que o uso das telas envolve um vício, igual ao vício de substâncias, porque tem quatro características do uso de substâncias, de droga, seja lícita ou ilícita.

        Nós temos a abstinência, que é o tempo que a gente fica longe do uso da substância, que na abstinência para o celular, é uma abstinência muito curta. O gatilho, que é um estímulo, onde faz a pessoa pegar o celular, que pode ser ver alguém ouvir um barulhinho do WhatsApp, coisa assim. A intoxicação, que é o uso excessivo e que são sintomas diferentes de outras drogas, como café, tabaco, álcool, cocaína, maconha e outras coisas. São sintomas diferentes, mas existem sintomas.

E outro é o efeito tampão. Quando a pessoa se sente angustiada, ansiosa, deprimida, sozinha, ela usa o celular, assim como outras pessoas usam substâncias. E é um efeito tampão, para tampar esse problema. Então, funciona também como uma fuga dos problemas, que nem a droga é.

Então, quando a pessoa tem um vício, quem é que vai poder ajudar ela? Primeiro, ela mesma. Não existe vício onde a pessoa mesmo tenha que se ajudar. E é esse elemento que eu quero trazer para os jovens.

Eu quero poder abrir os olhos deles, mostrar o que está por trás da internet, para eles poderem se autorregular. Eles precisam ter o hábito de regular o uso. E a gente sabe, quero frisar bem, que a internet tem muita coisa boa. Ela facilita muito as nossas vidas, só que o uso excessivo está sendo um grande problema. Um problema de aumento de ansiedade, perda de foco, um anestesiamento do corpo. E nesse anestesiamento, acaba gerando uma falta de sentido da vida. Os jovens, eles precisam de família, de grupo e os compromissos deles de estudos.

 O jovem está se afastando da família, ele opta em não ficar no grupo presencial, ele opta em ficar no grupo online, no virtual, e ele está perdendo o interesse pelos estudos. Então, é uma falta de sentido que está levando eles ao comportamento de automutilação. Quando o jovem acaba lidando com as questões emocionais, eles não têm a habilidade social, habilidade essa que só se adquire na socialização. E como eles vão se isolando dentro do quarto, eles perdem, eles têm habilidade, mas eles vão perdendo a capacidade dessa habilidade. Essa habilidade social é desaprendida, ela é esquecida. E aí, numa crise emocional, eles acabam se cortando. Então, eles precisam se autorregular, e claro que isso não isenta o controle dos pais e dos professores.

Já na terceira idade, foi a palestra que eu dei no dia 27 de setembro. Foi muito interessante, porque eu comecei trazendo como que a tecnologia foi avançando desde o tempo delas, de onde elas trabalhavam e aonde que a tecnologia vai levar. Os avanços que são projetados pelas ciências, tecnologia, e elas ficaram muito surpresas. E é maravilhoso trabalhar com a terceira idade, porque a gente vai vendo, elas compartilham dessa mudança da sociedade.

Elas são a prova viva da história, essa mudança da cultura e do comportamento humano. E toda essa mudança que elas conseguem enxergar, porque elas vêm de outra geração, que não tinha internet. Isso está envolvendo novas doenças, que são as ansiedades, a solidão e o vício. Então, a terceira idade, ela é muito comprometida com os problemas dos netos, e elas vão levar essa informação da palestra para os filhos, para os filhos controlarem o regular uso de celular dos seus netos. Então, essa palestra vai chegar em casa. E é isso. O relato que eu tenho é que foram quatro dias de bastante trabalho. ”

Fonte: Assessoria de Comunicação de Paverama

Data de publicação: 05/10/2023

Créditos: Assessoria de Comunicação de Paverama

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